Texto sobre Diogo Vilela

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É impossível pensar na história de qualquer brasileiro, de 1969 até os dias de hoje, sem lembrarmos das personagens vividas por Diogo Vilela ao longo desses anos. Algo inexplicável faz com que tenhamos uma certa familiaridade com os "Leozinhos, Ualbers" e tantos outros tipos interessantes interpretados por ele.

Um ator de trajetória eminentemente teatral, cujos primeiros passos foram conduzidos por Ziembinsk, que abriu os olhos do menino para a janela que a arte lhe oferecia.

Contemporâneo do "Asdrúbal Trouxe o Trombone", soube desde cedo que seu talento principal era a versatilidade. É impossível não lembrar dos tipos vividos na televisão e no cinema, como "O Grande Mentecapto", ou aqueles outros da "TV Pirata", do sucesso absoluto de "Cinco Vezes Comédia", sem se deliciar com sua facilidade em reproduzir coisas que só nós - brasileiros - entendemos.

Cuidadoso e muito rigoroso com a qualidade de seus trabalhos, obteve em 1981 a admiração do público ao contracenar com Madame Henriete Morineau em "Ensina-me a Viver". Como era interessante aquele jovem ator tão intenso, ao lado de Madame - aquela personalidade...

Não se curvou a nenhum gênero: soube ascender da comédia ao drama com mesma intensidade artística e poesia, pois ao se entregar de corpo e alma ao exercício da profissão de ator, descreveu em sua carreira uma verdadeira história de sucesso.

Hamlet vem comemorar seus trinta anos de profissão, mas não é um projeto novo, trata-se de um sonho que Diogo sempre teve. Em 1977, em uma entrevista para jornais sobre sua atuação em "Marcha Fúnebre", de Osman Lins, já citava sua ansiedade em envelhecer para poder interpretar os clássicos, principalmente "Hamlet".

Ano passado, ao dirigir Glória Menezes no espetáculo "Jornada de Um Poema" cujo tema era a trajetória de uma professora de literaturado século XVI, especializada nos "Poemas Sacros de John Donne" (contemporâneo de Shakespeare), Marcus Alvisi o convenceu de que era chegada a hora de se entregar a "Hamlet".  Optou pela tradução de Millôr Fernandes cuja compreensão fácil, tornou acessível a história desse príncipe dinamarquês que nos envolve numa gama de sentimentos intensos e reflexões profundas. Diogo ao produzir esse maravilhoso espetáculo reproduziu a disciplina de toda a sua carreira: cercou-se dos melhores profissionais, dirigidos com sensibilidade e geometria por Marcus Alvisi, o figurino primoroso de Fábio Namatame e cenário de Fernando Mello.

Para quem já achava que nada mais seria surpresa na interpretação de Diogo Vilela, que assista a esse charmoso "Hamlet", que nos conduz pela senda tortuosa de conflitos e questionamentos - que nos faz apaixonar e lutar com todas as armas por uma "Dinamarca Shakespeareana", que se confunde perfeitamente com o país que somos todos nós.
 

Andrea Monteiro de Barros





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