Texto do CCBB
.
.
.
.
O que faz de Shakespeare o monstro sagrado do teatro ocidental? Nascido numa época em que a biografia não era ainda cultuada, pouco se sabe de sua vida. Exerceu a profissão de ator e de empresário mas foi essencialmente um dramaturgo profissional, atentos às expectativas e preocupações do público de sua época.

Vivendo entre o fim do Renascimento e o início do Barroco, Shakespeare percorreu em sua obra estes dois momentos. Da suavidade e levezad as alegres comédias da juventude, chegou até a representação dos conflitos morais e existenciais nas peças da maturidade. Em contraste com a Europa católica, mergulhada nos valores e preceitos da Contra-Reforma, a Inglaterra elizabetana difundia a ideologia do Anglicanismo, marcada pela ampla liberdade de expressão. Às especulações abstratas, às discussões sobre dogmas, Shakespeare preferiu o estudo da natureza humana e de seus conflitos existenciais.

Entre as dezenas de personagens que criou e que se eternizaram no imaginário ocidental, o mais famosos é certamente Hamlet. Oriundo de um um mito escandinavo frmado por Saxo Grammaticus no início do século XIII e depois retomado pelo estoriados Belleforest em 1576, a lenda de hamlet foi utilizada por Sakespeare na esteira da moda das chamadas "peças de vingança". Entretanto, não é exatamente como executor de uma vingança que o personagem shakesperiano se notabiliza.

Qual é o limite da tolerância humana? Como separar sanidade e loucura? Como diferenciar realidade e magia? Como chegar à verdade? Apostando na atualidade das questões que atormentaram o príncipe dinamarquês e que afirmaram a dúvida como um componente essencial do homem, o Centro Cultural  do Banco do Brasil apresenta Hamlet. Nos diversos países por onde tem passado, nas múltiplas montagens que tem merecido, o texto afirma sua força singular.

"Ser ou não ser, eis a questão". A frase antológiga de Hamlet sintetiza o dilema fundamental do homem: a resignação, o sofrimento silencioso diante da infâmia e da injustiça ou a astúcia, a coragem de enfrentar a adversidade utilizando o fingimento e a violência como armas. A presença de espectros, as cenas noturnas, os espaços soturnos dos cemitérios anunciam o encontro fatal de Hamlet. Encontro com seu destino trágico que se vai tecendo a cada cena. Numa representação ímpar do caráter conflitante e mutável da personalidade humana, Shakespeare produz um espelho do homem de todos os tempos e cria, sem dúvida, o seu maisradicalmente humano personagem.
 

Centro Cultural Banco do Brasil

 
 

Voltar à Página de Textos