O Hamlet do Diogo
Millôr Fernandes.

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Sem a necessidade de ver o espetáculo, uma semana antes dele, tenho a certeza de que, daqui a duas horas, quando vocês estiverem apalaudindo de pé com a mesma opinião que tenho aqui sentado, escrevendo, dirão a quem puderem dizer: "Esse Millôr sabe o que recomenda. Cada um tem o Cirque du Soleil que merece. E se nós merecemos este espetáculo, podemos ir tomar um night-cap e depois dormir em paz nas artes."

Pois para mim Diogo Vilela há muito tempo Não deixa mais qualquer margem de dúvida, a não ser aquela de que vai, mais uma vez, se superar. E não só na interpretação, mas na escolha do em volta, peça, luz, movimento, som, gesto. E, claro, dos companheiros de que se cerca, sempre uma colaboração - e um desafio, ora, ora! - pra ninguém despregar os olhos, ou fechar os ouvidos.

De mim, que já vi tanto e ouvi tanto sobre o supermitificado Hamlet, vocês, mesmo especialistas, não conhecem:

"Não, eu não sou o príncipe Hamlet / nem me fizeram para ser, / no máximo sou um lorde camareiro, / a quem cabe apenas alongar uma passagem, / abrir uma cena ou duas."
- T.S. Eliot: A Canção de amor de J. Alfred Prufrock

"Tão encantadoramente miserável como hamlet descascando uma laranja"
- Dickens — Esboços de Horatio Sparkens

"Talento dá o que os críticos precisam / Para escrever a cartilha que os medíocres decoram / Gênio transforma verdade imensas / Em enigmas eternos, para que anos e séculos mais tarde / Tolos ainda perguntem aos tolos: 'O que Hamlet significa?' "
- Thomas Godfrey

"Mas perdemos para sempre a sua fonte última, sua inspiração primeira, o Ur-Hamlet, de 1589."
- Willam Rose Benet

O resto é silêncio
 
 

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